Jangada Brasil, nº 2, outubro de 1998: Colher de Pau – O caju
CAJU
O caju, fruto do cajueiro (Anacardium occidentalis), é a mais popular das frutas brasileiras no norte e nordeste. A mais remota descrição do cajueiro foi feita por André Thevet em 1558, em Singularidades da França Antártica. Para ele, “o caju era semelhante a um ovo de pato“.
A vitalidade do fruto, que mantém as suas propriedades germinativas durante muito tempo, possibilitou o transporte da planta por distâncias enormes, sendo a presença do cajueiro na África, Ásia e Oceania, posterior à chegada do português no Brasil, que foi o centro irradiante do Anacardium.
A árvore adulta, em seu ambiente ideal pode chegar a medir entre quinze e vinte metros de altura. O tempo avoluma a copa, e os galhos passam a se espalhar, dando a impressão de uma verdadeira alameda de uma única árvore. A cor das folhas varia entre uma escala de diversos tons roxos e verdes.
A floração se dá entre outubro e novembro, e a frutificação entre dezembro e janeiro. Um cajueiro nordestino produz em média três mil frutos. Um caju sadio mede de seis a doze centímetros e tem o sabor doce e adstringente.
Normalmente, o povo classifica o caju como um fruto com um caroço único, a castanha, do lado de fora. Porém, segundo a botânica, a castanha é um aquênio, ou seja, o verdadeiro fruto.
O cajueiro é elemento popular da marcação do tempo. Segundo o calendário dos tupis, acaju também significava ano, coincidindo com o ciclo de frutificação do cajueiro. Portanto, em cada ano, guardavam uma castanha da fruta em uma cabaça, sabendo assim a quantidade de anos já vividos. Daí veio a sinonímia popular para caju: ano.
A árvore tem muitas aplicações na medicina popular: o cozimento das cascas é recomendado para o tratamento da astenia (fraqueza), da clorose, debilidade muscular, glicose na urina e secreção exagerada de urina. Também é utilizado em gargarejos para combater inflamações da garganta e aftas.
A planta serve ainda para debelar afecções catarrais, tosses rebeldes, bronquites, escorbuto, cólicas intestinais, doenças da pele, escrofulose, oftalmias, icterícia, psoríases, dispepsias. Constitui um eficiente afrodisíaco e é também um ótimo remédio contra diabetes.
As raízes são purgativas; o caule tem propriedades adstringentes; as folhas são indicadas para tratamento de pele e de cólicas intestinais. Dizem também que suas pequenas flores verde-avermelhadas são afrodisíacas.
Nascem duas irmãs algemadas, come-se uma crua, a outra assada. Quem são?
(veja a resposta no final da página)
CAJUEIRO
(Jackson do Pandeiro e Raimundo Baima)
Cajueiro, êê, cajueiro ê-á
Cajueiro pequenino
Todo enfeitado de flor
Eu também sou pequenino
Carregadinho de amor.
Tradicional cajueiro
Dos meus avós traz lembrança
Testemunha evocativa
Dos meus tempos de criança.
O cajueiro não dá coco
Coqueiro não dá limão
O amor quando é de gosto
Não produz ingratidão.
Não sou besta como o caju, que nasce com a cabeça para baixo.
(João Peretti, Cajueiro)
O amor de homem casado
É como o caju chupado
É um beco sem saída
É um caneco amassado
• Para saber mais:
– MOTA, Mauro. O cajueiro nordestino. Rio de Janeiro, Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura, 1956.